quarta-feira, 28 de outubro de 2009

MEDICINA INTEGRATIVA COMO SUPORTE AO TRATAMENTO DO CÃNCER

A Medicina complementar tem sido cada vez mais procurada pela população de uma maneira geral, não só aqui no Brasil, como na Europa e América do Norte, mais conhecida como terapia alternativa, que é aquela realizada ao invés do tratamento convencional, enquanto que a complementar se refere ao tratamento usado em adição ao convencional.
As terapias complementares não prometem a cura, mas podem aliviar sintomas de câncer ou de efeitos colaterais de seu tratamento, ou proporcionar uma melhora do seu estado geral, de sua disposição física, mental e emocional.
Muitas técnicas complementares dificilmente podem ser submetidas a um estudo nos moldes acadêmicos, como um placebo controlado, mas podem ser submetidas à análise qualitativa que funciona como um estudo pré clínica. Desta forma, pode-se avaliar o efeito da cromoterapia ou aromaterapia na sensação de bem-estar ou na diminuição da depressão.
A American Câncer Association propõe o termo Medicina Integrativa para designar a combinação do tratamento convencional baseado em evidências e as terapias complementares.
O que o oncologista deve saber é o que leva o paciente com câncer a buscar métodos complementares, tendo em vista que essa prática é cada vez mais freqüente. Os motivos dessa busca variam muito, mas a principal delas é o alívio de sintomas causados pelo tratamento convencional, ou quando não se está obtendo êxito no tratamento alopático, e principalmente pela pouca valorização que se dá, hoje em dia, à relação médico-paciente. Cada vez mais se valoriza os avanços tecnológicos dos exames, dos medicamentos de última geração em detrimento do olhar, ouvir, tocar, dialogar e acolher o paciente. As consultas são cada vez mais breves, e neste curto intervalo dá-se mais prioridade aos resultados dos exames do que ouvir, conversar, esclarecer ao paciente suas dúvidas, angústias, medos e fantasias. Assim, dessa maneira, o paciente se sente sem apoio, inseguro, receoso, cansado de tanto remédio que nem sabe para o que serve, e de tanto exame invasivo, fazendo-o buscar alguma outra forma de se cuidar, que o faça sentir se bem, sentir-se acolhido, apoiado neste seu momento de vida.
Em nenhum estudo o uso de terapia complementar prejudicou a aderência ao tratamento principal. Um amplo estudo sobre medicina complementar em pacientes com diferentes tipos de câncer, foi publicado no Journal of clinical oncology, July 2000, que mostra que 83% dos 453 pacientes tinham usado ao menos uma técnica complementar como parte no seu tratamento de câncer. Quando a psicoterapia e as práticas espirituais foram excluídas, 69% dos pacientes tinham usado ao menos uma técnica complementar no tratamento.
O que pretendo abordar neste texto é de uma vertente da medicina complementar, a Medicina Integrativa, suas características e de que forma ela pode ser utilizada no acompanhamento de pacientes com câncer.
A medicina chinesa clássica tinha suas raízes em tradições xamanísticas e foi modelada pelo taoísmo e pelo confucionismo, as duas principais escolas filosóficas do período clássico.
A idéia da medicina Integrativa do corpo é predominantemente funcional e preocupada mais com as inter-relações de suas partes do que com a exatidão anatômica. Assim, o seu conceito de um órgão físico refere-se a todo um sistema funcional, considerado em sua totalidade, paralelamente às partes aplicáveis do sistema correspondente.
Os clássicos afirmam que as doenças tornam-se manifestas quando o corpo perde o equilíbrio e a energia não circula apropriadamente. A doença não é considerada um agente intruso, mas o resultado de um conjunto de causas que culminam em desarmonia e desequilíbrio. Entretanto, a natureza de todas as coisas, incluindo o organismo, é tal que existe uma tendência natural para se retornar a um estado dinâmico de equilíbrio. Tanto a doença quanto a saúde são consideradas naturais e parte de uma seqüência contínua. São aspectos do mesmo processo, em que o organismo individual muda continuamente em relação ao meio ambiente inconstante. Na concepção da Medicina Integrativa, o indivíduo é responsável pela manutenção de sua própria saúde e até, em grande parte, pela recuperação da saúde quando o organismo se desequilibra. Na Medicina Integrativa, o médico ideal é um sábio, que entende que todos os modelos do universo funcionam em conjunto; que trata dos pacientes individualmente; cujo diagnóstico não classifica como portador de uma doença específica, mas que registra o mais completamente possível o estado total da mente e do corpo do indivíduo e sua relação com o meio ambiente natural e social.
Determinado o estado dinâmico do paciente, o médico tenta restabelecer o equilíbrio e a harmonia. São usadas varias técnicas terapêuticas, todas planejadas para estimular o organismo do paciente de tal modo que ele siga sua própria tendência natural para voltar a um estado equilibrado. Assim, um dos princípios básicos é sempre administrar uma terapia mais branda possível, e o médico vai modificando seguidamente de acordo com as respostas do paciente.
A Medicina Integrativa utiliza uma série de recursos terapêuticos incluindo a Fitoterapia, aromaterapia, massagem, acupuntura, Argilaterapia e relaxamento.
Na Medicina Integrativa, não há um conceito especifico para o câncer, embora exista para tumores. As causas do câncer são múltiplas, incluindo toxinas e outros fatores ambientais, chamados de “fatores patógenos externos”, assim como as “causas internas” tais como o stress, má alimentação, raiva, medo, depressão, obsessão, acúmulo de toxinas dos alimentos, danos dos órgãos e energia ancestral (hereditariedade).
Os dois principais fatores são a estagnação de sangue e o bloqueio ou acúmulo de energia vital que circula pelos meridianos, ligando todas as partes do corpo. A energia vital ativa e controla a circulação de sangue e de outras substâncias, portanto a deficiência do QI pode provocar o surgimento da estase sanguínea.
A estagnação de energia, que comumente resulta dos distúrbios emocionais ou da interferência dos fatores exógenos, é outro fator comum que afeta o fluxo normal do sangue, provocando o surgimento da estagnação e levando à formação de tumores.
A essência vital insuficiente pode causar as síndromes das deficiências. A insuficiência da energia vital é considerada a patogenesia básica do câncer. Ela surge em decorrência das deficiências congênitas, senilidade, doenças crônicas, desgaste físico, alimentação inadequada, atividade sexual excessiva ou invasão de fatores patogênicos externos (vírus, bactérias, fungos, frio, calor, umidade, etc).
De acordo com a Medicina Integrativa, a energia vital, controla todo o trabalho corporal através do seu fluxo pelos meridianos, vasos sanguíneos, linfáticos e nervosos.
A uma relação única entre o sistema composto pelo: Pulmão, Coração, Baço-Pâncreas, Rim e Fígado e os tecidos do organismo, assim como entre o organismo e o meio ambiente. Tudo está relativamente equilibrado a fim de manter a função fisiológica do corpo. Quando este equilíbrio é afetado, ocorrem as patologias.
Muitos fatores provocam desequilíbrios no organismo, tais como condições climáticas anormais, epidemias, emoções exacerbadas, danos causados por dieta inadequada ou tensão emocional, traumas, etc.
A Medicina Integrativa sustenta que a ocorrência das patologias não depende apenas dos fatores exógenos, mas também da resistência corpórea. Quando esta está relativamente debilitada, os fatores exógenos terão a oportunidade de atacar e molestar o equilíbrio energetico do organismo, provocando patologias. Os Fatores internos de origem das doenças referem-se especificamente às emoções (alegria, felicidade, excitação, raiva, irritação, preocupação, medo, ansiedade, pânico, mágoa e aflição). Entretanto, as emoções nem sempre são necessariamente fatores patológicos, pois o fluxo inconstante das emoções é a parte do comportamento saudável, variando com o ambiente, tendência hereditária, idade, estágio de desenvolvimento e outros fatores. As emoções somente são relacionadas com a desarmonia dos órgãos quando provocam a obstrução do fluxo de energia vital ou tornam-na irregulares, tornando a energia dos órgãos deficientes ou excessivos. Por outro lado, os distúrbios dos órgãos podem resultar em distúrbio emocional.
A pessoa está saudável quando existe um equilíbrio suficiente do fluxo de energia, que mantém o sangue e os líquidos corporais circulando e combatendo as doenças. Mas se a circulação de energia for bloqueada por qualquer razão, ou se tornar excessiva ou deficiente, poderá resultar em dor ou doença. O fluxo de energia pode ser interrompido por uma dieta desequilibrada ou pelo estilo de vida, excesso de trabalho, stress, reprimir ou exceder as emoções, ou a falta de atividade física.
O câncer, como qualquer outra doença, é considerado como uma manifestação de desequilíbrio. O tumor é a expressão e não a causa do distúrbio. Cada paciente pode ter uma diferente causa de desequilíbrio, que esteja causando aquilo que parece ser o mesmo tipo de câncer. É muito importante identificar exatamente todos os fatores extrínsecos e intrínsecos que estejam colaborando com o desenvolvimento de cada doença, tratar a (s) causa(s) mais do que a aparência ou expressão somática. Assim sendo, o tratamento sempre será individualizado, personalizado, na medicina integrativa.
Para fazer o diagnóstico, o terapeuta se baseia na coleção de informações obtidas pelo exame físico, e observação dos sintomas físicos, mentais e emocionais; podendo assim formular um plano de tratamento para restaurar o equilíbrio.
A Medicina Integrativa. reconhece na alimentação um recurso para potencializar os efeitos da Fitoterapia, assim como ela pode proteger e reequilibrar nosso corpo ou poluir nosso organismo. A dieta é um remédio de primeira linha. A dietoterapia é um sistema sofisticado, que reconhece diferentes constituições humanas e avalia cada alimento de acordo com suas propriedades terapêuticas. Para pacientes de câncer freqüentemente é recomendada uma dieta baseada em cereais, feijões, vegetais e frutas frescas.
Os pacientes que estão sob tratamento fitoterápico devem evitar alimentos crus, por serem muitos “frios” e açúcar branco, por sobrecarregar o pâncreas e o fígado. Fortes especiarias, usadas para dispersar energia para a superfície corporal, devem ser evitadas. Os pacientes com câncer são orientados a evitar o café porque ele sobrecarrega as glândulas adrenais; alimentos frios ou gelados por favorecerem a estagnação, assim como os frutos do mar e os cítricos por serem frios e tóxicos.
As ervas usadas no tratamento de câncer e outras doenças imunodeficientes se dividem em 3 categorias. :
1) Tônicas: aumentam o número e atividade imunológica das células e proteínas.
2) Limpeza de toxinas: limpam o sangue dos germes e toxinas produzidas pela destruição de tumores, pela má alimentação e pelo stress.
3) Ativam o sangue: reduzem a coagulação e reações inflamatórias associadas com a resposta imune.
A Fitoterapia, no tratamento do câncer, pode promover o aumento do apetite, reduzir náuseas e vômitos, aliviar o stress, melhorar a fadiga, aliviar as dores, melhorar o sono e o humor.
Outro componente usado no tratamento de câncer é um conjunto de exercícios que combina movimentos lentos, simétricos com a meditação, relaxamento, respiração, imagens e outras técnicas comportamentais.
O Objetivo básico é permitir ao indivíduo a regular e direcionar o fluxo de energia vital, com o seu próprio corpo. O paciente é orientado a imaginar e direcionar a sua energia vital à 4 dedos abaixo do umbigo, no ponto chamado centro vital. Ele aprende a sentir o ponto e direcionar a energia concentrada neste ponto para qualquer região ou órgão. Geralmente sente-se uma sensação de calor local, os efeitos sistêmicos, no campo físico, mental e emocional podem começar a serem sentidos, após 2 meses de exercícios diários.
Na visão ocidental, aumenta a absorção e utilização de oxigênio pelo sangue, assim como a Yoga; além de ter um efeito positivo sobre certas enzimas que possuem um papel na manutenção da saúde corporal e na fosforização, um processo bioquímico que fornece energia necessária para a célula realizar o seu trabalho.
A Acupuntura é outra técnica para mudar o fluxo ou qualidade da energia vital e reequilibrar as energias corporais. A Medicina Integrativa, diz que a energia circula através de 14 meridianos principais ou canais de energia, ligando todo o corpo de alto a baixo, direito esquerdo, dorsal ventral. Cada meridiano está conectado a um órgão e/ou víscera, e se exteriorizam para a superfície corporal através de determinados pontos, que quando estimulados afetam o fluxo da energia vital. Através da estimulação destes pontos com agulhas finas, massagem, moxabustão ou laser, ocorre o desbloqueio da energia ou o ajuste do seu fluxo pelos vasos e meridianos.
A acupuntura tem diversos efeitos sobre os neuromoduladores, neuro-hormônios e neurotransmissores, proporcionando bases sólidas para suas aplicações nas perturbações emocionais, nos distúrbios psicossomáticos e endócrinos. As mudanças induzidas pela acupuntura nos níveis de produção e secreção de opióides, serotonina, catecolaminas, ocitocinas e angiotensinas, além do conjunto de hormônios hipofisarios, dão subsídios para a compreensão das aplicações da acupuntura em situações tão diversas quanto à dor crônica e alterações das funções viscerais, dos sistemas: circulatório, respiratório, digestivo e genito-urinário.
As evidências experimentais com estímulo por acupuntura demonstraram que:
a) A eletroacupuntura aumenta a degranulação dos mastócitos sintetizados de muitos mediadores químicos;
b) A quantidade de leucócitos aumenta muito;
c) Aumenta o poder bactericida do plasma;
d) Aumenta a produção de anticorpos;
e) Aumenta a fagocitose;
f) Aumenta a acetilcolina;
g) Diminuição das catecolaminas, aumentando a analgesia;
Há um sistema de comunicação bilateral entre o sistema imune e o cérebro. Fatores psicossociais modulam a resposta à dor, infecções e neoplasias. Os peptídeos opióides endógenos são os principais intermediários desta conexão, além de servirem como moduladores de analgesia, eles estão envolvidos com o controle do estado emocional, memória, funções digestivas, respiratórias, cardiovasculares, termo-regulação e atividades motoras. Eles atuam na resposta hormonal ao stress, na resposta linfocitária proliferativa, na atividade das células NK, implicadas no controle do crescimento tumoral.
No câncer, ela pode ser utilizada desde para aliviar dores até tratar de outros distúrbios funcionais associados com a doença, como náuseas, vômitos, secura na boca, fadiga, anemia, ansiedade, medo e depressão. Pode também ajudar a reduzir o stress e aliviar as dores que seguem a cirurgia, além de acelerar a cicatrização, diminuindo muito o tempo de internação e o risco de infecções.
A Medicina Tradicional Chinesa pode ser utilizada, principalmente como um recurso de prevenção de doenças, assim como aplicada em todo o processo de acompanhamento do paciente de câncer; pré e pós-operatório, durante a radioterapia e quimioterapia, ajudando a recuperação, diminuindo as seqüelas e efeitos colaterais. Alem de ter esse papel de melhorar as condições ou queixas físicas, ela proporciona também um bem estar, uma melhora de humor, tranqüilidade, sono reparador, vitalidade e pode auxiliar o indivíduo no processo de passagem, caso seja o caso. Existem alguns pontos de acupuntura que são utilizados para trabalhar medo, o espírito, ancestralidade, desapego, angústia, raiva e desespero ou agitação.
Um dos clássicos mais antigos da medicina chinesa, o Neijing (O Clássico de Medicina do Imperador Amarelo) diz que o processo de cura não é apenas mecânico, não é apenas um colocar de agulha, a coisa igualmente importante para a saúde é a relação entre o terapeuta e o paciente; restabelecer o equilíbrio sempre dependerá destas relações, sem a cooperação do paciente o terapeuta não poderá fazer o seu trabalho. A melhor maneira de cuidar de um paciente é estar consigo mesmo, estar com ele, olhando em seus olhos, ouvindo suas palavras, sentindo-o. Quando ambos, terapeuta e paciente estão em sintonia, a comunicação é aberta, tornando sua energia forte o suficiente, restabelecendo assim o equilíbrio ou a cura.

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